Jornal ALMANAQUE
16 de fevereiro de 2017 | Belo Horizonte/MG
Texto: Paulo Henrique Silva
QUEBRANDO TABUS
EXPOSIÇÃO “ALMOFADINHAS”, NO SESC PALLADIUM, TRAZ BORDADOS FEITOS POR HOMENS
Quando se ouve o termo “almofadinha”, o que primeiro vem à mente é uma definição pejorativa, de um homem rico e cheio de frescuras. Nada a ver, portanto, com o trabalho doméstico de bordar almofadas, realizado principalmente por mulheres. Verdade? Não.
A exposição “Almofadinhas”, que será aberta hoje, às 19h30, na Galeria GTO do Sesc Palladium, mostra que essas duas situações estão muito mais “costuradas” do que se imagina, apontando para uma cultura patriarcal que define as funções como sendo de homem ou mulher.
O artista mineiro Rodrigo Mogiz, que há anos usa o bordado nas próprias obras, conta que um dos episódios envolvendo o preconceito vem de 1919, quando rapazes fizeram um concurso para saber quem era o melhor na arte de pintar e bordar almofadas trazidas da Europa.
“Eram homens afetados, femininos, pertencentes a famílias ricas, que andavam todos engomadinhos. Eles foram contra a moda de homens de roupas escuras, preferindo as claras e coloridas, além do uso da gravata borboleta. Foi um alvoroço na época”, registra Rodrigo.
Curiosamente, esse não foi o ponto de partida da exposição que reúne os trabalhos de outros dois artistas, Fábio Carvalho, do Rio de Janeiro, e Rick Rodrigues, do Espírito Santo. “Queríamos trabalhar juntos, pois já utilizamos a técnica do bordado, cada um a sua maneira”, conta.
Rodrigo ressalta que esta é ainda hoje uma atividade extremamente ligada ao universo feminino e ao artesanato doméstico. “Ela tem o seu lugar na galeria de arte, na arte contemporânea. O que estamos fazendo não é exatamente novo, mas buscamos ampliar essa pesquisa”.
O curador da mostra é Ricardo Resende, que já passou por instituições como o Museu de Arte Contemporânea e Museu de Arte Moderna, ambos em São Paulo, convidado por sua experiência com artistas que recorreram ao bordado, entre eles Bispo do Rosário e Leonilson.
O interesse de Rodrigo pelo bordado tem origem familiar, já que mãe e avó eram costureiras. “Na faculdade fui incluindo a costura nos meus trabalhos, com o bordado vindo depois, buscando sempre tirá-lo desse lugar comum”, assinala.